Roberto Queiroz
Saudações senhoras e senhores, sou Roberto Queiroz e trabalho no Ministério dos Transportes, onde sou funcionário público. Para estar onde estou, no trabalho que estou, precisei me esforçar muito e claro, ter apoio de minha família. Não sou um Silva ou Santos qualquer. Preciso honrar meu sobrenome. Para quem não sabe, o nome Silva e Santos eram os sobrenomes mais baratos para registro de crianças e somente os menos favorecidos tinham esses sobrenomes. Achavam que era aleatório? Grande engano! Nesse país deste tempos antigos o capital é o que manda. O Ter é o que selecionar e coloca os melhores nos melhores lugares. Aliás, os que Tem nos melhores lugares, porque quem já nasceu sem referência de ter já está condenado a não ter ou ser nada. Mas isso tudo fica muito confuso e não cabe a mim decidir ou classificar quem tem. Eu nasci em berço esplêndido. Quem não… Só lamento. Em meu trabalho eu faço o que tem que fazer e estou à vista o tempo todo. O que faço? Não importa! Sou concursado e isso basta de referência. Onde trabalho há a visita de muitas pessoas diariamente e num país de miseráveis é fácil ver alguém destacado seja por sua posição de ocupação no trabalho, seja por seu trajar, seja por seu perfume, seja por sua sedução, seu olhar, enfim, não passo desapercebido. Tenho tudo isso e muito mais que ainda estou por descobrir. Muitos mistérios ainda estão para ser descobertos em um ser brilhante como eu. Meu registro de ofício diz que sou Funcionário Público, mas minha atividade preferida é ser quem eu sou sem precisar renunciar minha vida, quem sou ou como sou. Sou por isso conhecido como Roberto Destruidor de Corações. Claro, que apenas para os íntimos e amigos mais chegados esse nome e trabalho são conhecidos. Por que desse nome? Simples! Eu conquisto corações, brinco como quiser e depois abandono. Alguns dizem que isso os destrói. Para mim, apenas uma brincadeira de criança. Dizem que as vítimas sofrem muito depois que as abandono. Aliás, eu também me considero uma vítima da situação. Pobre de mim que com minha brilhante mente descobri um modo de criar na mente de moças inocentes sonhos e desejos altos. Tão alto como nunca conseguiram imaginar. Nessa sociedade miserável onde promoções de lanchinhos a 6,90 atrai multidões. Quer faze-los pirar mais? Lanche e suco de máquina por 5! Argh! Não para mim isso, mas as pobres moças enlouquecem. Por ano eu tenho uns quatro ou cinco intentos de sucesso. Na palavra da moda: Cases! O meu papel é simples e fácil demais. Eu visualizo a vítima. Me apresento como não sou, mas como poderia ser, tudo que poderia ser para ela, e tudo que ela sempre quis. A minha imagem, minha presença, meu perfume e meus beijos quentes injetam na vítima o veneno letal. Pena que não é tão letal assim, algumas desgraçadas ainda teimam em pensar, em dizer que não tem certeza do que querem. Desprezíveis! Claro que sabem o que querem. Querem a mim. Mas tudo bem. Eu a paciência não poderia faltar em alguém como eu. E nada é tão doce quanto ouvir que as pobres moças são intocadas. Ah! Isso me deixa louco. Sou capaz de pagar um lance mais caro. Uma promoção melhor talvez. Enfim, meu objetivo é chegar onde ninguém nunca chegou. O custo disso não importa, desde que chegue. Se precisar dizer que eu amo, eu digo. Se precisar dizer que me amarrarei para sempre a ela, eu direi. Mas eu Roberto Queiroz nunca falharei em obter o que quero e quando quero. Estou agora trabalhando em mais um case. A vítima? Aquela branquinha e quente da parada do Lucas, a Virgem das Loucas. Por ela já paguei lanches mais caros. Uma promoção maior. Já disse que me apresentaria aos pais dela. Já disse que a amo mais que a minha própria vida. Já lhe prometi filhos e já lhe prometi que me amarrei a ela pela eternidade pelo simples preço de a experimentar. Sei que em breve ela cederá. Mais um case de sucesso em breve, porque Roberto Destruidor de Corações nunca perdeu. Tenham todos uma boa noite.
